Vamos Falar Sobre... | O Fim do Reinado d'Os Maias

Não, não vos abandonei. Infelizmente, aquela onda que me atingiu na semana passada (aquilo que se julga ser uma faringite) continua a massacrar-me e, além do trabalho (yey, temos trabalho outra vez!), há muito pouca coisa para que tenho forças e vontade. Não estou numa reading slump, mas não tenho vontade de ler grande coisa. Se acompanharem o meu Goodreads, podem achar que estou a ler três livros ao mesmo tempo e perdi completamente a cabeça... mas não. Simplesmente, hoje estou no mood para este, amanhã estou no mood para outro e não acabo nenhum. 
Além das leituras atrasadas, como devem ter percebido, o Blog mudou de cara mas ainda lhe faltam os retoques para ter a cirurgia plástica completa. Era algo que queria ter concluído antes de voltar a trabalhar mas o tempo e a força não são minhas aliadas. Oh, well...

Feita esta breve actualização de vida, hoje venho comentar uma notícia que mexeu com os meus sentimentos! Diz que Os Maias de Eça de Queirós irá deixar de ser um livro de leitura obrigatória no Ensino Secundário. Palmas para isto.
Controversa ou não, a minha opinião é de que isto é um avanço no ensino em Portugal.
Acho muito bem que exista o PNL e que se incentive à leitura com unhas a dentes mas também acho que o PNL deve estar adequado à idade e à maturidade literária das pobres criancinhas. Lembro-me do tormento que foi, para mim, ler cerca de 10 páginas daquela obra (sim, não consegui ler mais) e não desejo tal infortúnio a ninguém. Esta opinião não vem só da pessoa que não conseguiu ler Os Maias. Vem também de uma das poucas pessoas que leu e adorou o Memorial do Convento! Quer isto dizer que teria muita pena se o Memorial também deixasse de ser obrigatório (com todo o estigma existente à volta do livro, iria haver ainda menos leitores da famosa obra de Saramago) mas compreendo que não seja uma leitura fácil para uma criança de 16/17 anos.

A verdade é esta: os miúdos não lêem (não fiquem melindrados, eu sei que existem gloriosas excepções). Não existe incentivo por parte dos pais, educadores, nem da sociedade em geral para que as crianças em Portugal leiam. Portanto, se não lêem, vamos «espetar-lhes» com Os Maias em cima? Não está certo... Que ler seja obrigatório e incentivado, concordo plenamente. Que a leitura e a escrita sejam avaliadas, acho ainda melhor. Tudo o resto, acho que está inadaptado e que é extremamente antiquado.

Numa época em que a hipótese de escolha e em que a diferença são temas em destaque, há que dinamizar o ensino e propôr novas leituras. É igualmente importante divulgar autores contemporâneos, que escrevam para gente mais nova.
Ora enfim, deveria aumentar-se a oferta, que continuará a ser limitada, mas já é alguma coisa...

“O que interessa é conhecer a obra do autor, pois qualquer leitura feita deve permitir fazer outras”

É isto. Apesar de não ler propriamente muitos autores portugueses, confesso, acho muitíssimo bem que os leiam e que a sua obra seja divulgada. Leiam-se livros, leia-se em português e leiam-se portugueses mas não se exijam mundos e fundos quando não existe uma cultura de leitura enraizada neste país.



E vocês, o que acham desta nova decisão?


Comentários

  1. Concordo que deva haver opção. Também não gostei dos Maias e foi-me imposto. Já o Memorial do Convento, adorei.
    Agora acho que deve haver opção sim, mas dentro de obras com qualidade. E aí, os Maias têem-na.
    O problema não está em ser os Maias ou outro livro qualquer (bom)... O problema é como a leitura é abordada aos jovens, como sendo uma obrigação.
    Quando deveria ser encarada como um prazer, pois é o que é!
    Seja os Maias, o Memorial do Convento, Fernando Pessoa ou outra obra qualquer (de qualidade), é importante sim incentivar a leitura, haver opção de escolha, mas sobretudo educar para que a leitura seja um prazer, um estilo de vida, e não uma regra só porque sim.

    Claudia - Mulher XL
    www.mulherxl.pt

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    1. Apesar de, para mim, ter sido uma leitura abominável, não ponho em causa a qualidade da obra. No entanto, acho que essa questão da «qualidade» é um bocadinho subjectiva. O que para mim são livros de qualidade - seja pelo conteúdo, pela escrita, pela mensagem transmitida ou por isso tudo junto -, pode não ser para ti ou para qualquer outra pessoa. Não acho correcto que não seja o próprio a dizer se tem qualidade (ou a qualidade necessária e suficiente para se iniciar na jornada como leitor) ou se se identifica com o género.
      Devo ser a pessoa com maior dificuldade em fazer alguma coisa por obrigação e, portanto, percebo perfeitamente aquilo que dizes. Ainda mais uma razão para achar que cada um deve ser livre de escolher aquilo que quer ler - mesmo que sejam livros de fraca qualidade -, de escolher o género que melhor se encaixa no seu perfil de leitor e trabalhar esse mesmo perfil para, um dia mais tarde então, pegar em livros de topo e olhar para trás e pensar «eu li aquela porcaria, mas foi aquilo que fez de mim o leitor que sou hoje» :)

      Um beijinho, Cláudia.

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  2. Eu até curti Os Maias LoL mas olha eu que adoro ler, preferia ir arrancar dentes do que ler A Aparição ou qualquer coisa de Saramago. De facto na escola deve-se estudar os clássicos mas não desta forma, deve-se incentivar à leitura!

    Beijinhos,
    O meu reino da noite | facebook | instagram | bloglovin

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    1. Por favor, dá uma chance a Saramago! Esquece o Memorial, lê o Ensaio Sobre a Cegueira. Tão bom!
      Concordo a 99% :P

      Beijinho ^^

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  3. Eu li Os Maias, mas não li o primeiro capítulo - saltei a descrição da casa toda, e a partir daí foi tolerável. Tenho lido mais Eça desde então e há livros dele bem melhores - mais não seja porque A Relíquia, por exemplo, tem menos umas boas 400 páginas! Os Maias é enorme!
    (se tiveres problemas com descrições, tenta reler Os Maias saltando o primeiro capítulo a partir do momento em que falam da casa)
    Posto isto, Os Maias nunca foi obrigatório - havia uma escolha entre uns dois do Eça a dar, a maioria das escolas é que escolhia Os Maias, mas havia alternativa. Agora estão a dizer simplesmente para dar Eça, que acho melhor - tem livros muito mais curtos (lamento, mas um livro mais curto será sempre menos desmotivante que um calhamaço daqueles, há mais hipóteses de lhe ser dada uma chance) e muito mais divertidos. Acho que há que saber os contextos, as turmas.
    Ler o Memorial foi, para mim, um suplício.

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    1. Essa perspectiva é interessante! Ainda tenho o livro, um dia destes vou tentar fazer o que dizes porque sim, para mim o martírio são as descrições (seja n'Os Maias ou noutro livro qualquer...). Obrigada pela dica :)
      Supostamente os Maias não obrigatórios desde 2014 mas, nestes 4 anos, quantos terão sido os professores a optar pela Ilustre Casa de Ramires em vez d'Os Maias? Tudo tem estado programado para essa obra desde há imensos anos e dá demasiado trabalho adaptar para outra obra - além de várias outras questões -, e não terá sido um documento apenas disponível no site da DGE a contrariar essa opção já tão enraizada. De qualquer forma, não é que a escolha seja muito variada. Vir a público torna oficial e pode facilitar muita coisa.
      O PNL não se cinge a 2 ou 3 obras por ano, nem a 2 obras de Eça de Queirós. Os livros são recomendados e não obrigatórios.
      Compreendo que se tenham que avaliar todos os alunos pelas mesmas obras e que 2 ou 3 tenham que ser obrigatórias para o exame nacional mas, além de deverem ser mais adequadas aos alunos, deviam dar-se a conhecer coisas novas, pedir aos miúdos que escolham x livros da lista do PNL e os avaliem através de recensões críticas, testes de escolha múltipla, o que bem entenderem, para poder adequar o ensino e ajudar as crianças a ultrapassar dificuldades de leitura e interpretação de forma mais eficaz.

      Obrigada e um beijinho :)

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    2. Eu ainda hoje acredito - e proclamo sem vergonhas - que só consegui ler Os Maias porque saltei essas praí 30 páginas. Uma grande amiga minha diz que adorou essa descrição - que se sentia a passear pela casa - mas isso é o contrário do que eu aprecio na literatura :) e a descrição nem acrescenta nada à narrativa!
      É verdade que está tudo demasiado programado para Os Maias - e claro que, havendo exames nacionais, é necessário haver coisas que são realmente ensinadas a todos os alunos - imagina o exame ser sobre o Ramires quando x% tinha dado Os Maias, etc...
      Não adorei nenhum dos autores portugueses que dei na escola - nunca mais voltei a ler Saramago, no Eça peguei mais recentemente mas a medo e até gosto, mas não amo. Agora, se há autor que me marcou, e dei no 9º ano (PNL, sugestão de leitura orientada, que a minha professora nos "impingiu" - sei razoavelmente bem como funciona o PNL!): Jorge Amado. Se não tivesse lido, nesse ano, Capitães da Areia, hoje não gostava de ler.
      Por outro lado, no meu 11º ano, aquando do "contrato de leitura" (não sei quantos anos tens - eu fiz o 11º em 2005/2006 e isto na altura consistia em os alunos lerem um livro por período, à sua escolha, e escreverem uma ficha de leitura sobre o mesmo - diferente da tua sugestão apenas no sentido em que não era preciso ir buscar o livro à lista do PNL), o professor no 1º período pegou numa lista de livros, do PNL, escolhida por ele, e pediu que nós votássemos para que lêssemos todos o mesmo - calhou a "cidade dos deuses selvagens" da Isabel Allende e é um de três livros que nunca terminei (e, dos três, aquele que mais relutância tenho em algum dia voltar a agarrar)...

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  4. Não há que ter vergonha daquilo que não se consegue ler/terminar! Aliás, se não tivesses feito essa experiência, não podias recomendar a todos os que têm um medo de morte d'Os Maias dar uma oportunidade ao livro ;)
    No fim de contas, as pessoas que gostam de ler e que mais lêem são aquelas que gostaram MESMO de algum livro que lhes foi "impingido" na escola. Questiono-me quantos leitores poderíamos ganhar se se lessem livros escolhidos pelos alunos e que lhes agradassem, efectivamente...
    Devemos ter mais ou menos a mesma idade (entrei na faculdade em 2007) mas não fui brindada com contratos de leitura, pelo menos que me lembre. De qualquer forma, acho louvável a democracia patente na iniciativa do teu professor. Mas, a meu ver, continua a ser pouco justa :)

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    1. Já o disse a muita gente - inclusive outras pessoas aqui dos blogs - e acho que consegui convencer algumas a dar nova chance saltando o Ramalhete :p
      Eu em pequena gostava de ler - aprendi a ler mesmo antes da escola, li muita BD do tio patinhas e turma da mónica, os livros da condessa de Ségur, os cinco, uma aventura, clube das chaves, triângulo jota, li as mulherzinhas várias vezes com dez anos! Mas se não tivesse lido os Capitães da Areia, acho que não teria feito aquela transição adulta, para literatura adulta.
      Claro que a parte de ser o próprio a escolher o livro pode ser falaciosa - já peguei em muitos livros a pensar que ia adorar (nunca peguei num a pensar que ia odiar, né), e a expectativa saiu super gorada. O On the Road, o Slaughterhouse-Five, todo o John Green embora não achasse que ia amar, etc etc etc. Agora, se eu mandasse no PNL, metia Maria Judite de Carvalho, por exemplo, como leitura obrigatória, porque não tem 700 páginas, é lindíssimo, é simples e fácil de relacionar.
      Também entrei em 2007! E sim, iniciativa democrática, mas poupava-lhe o trabalho de conhecer mais do que um livro, e ele já tinha delimitado a lista inicialmente...

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    2. Ahah, acredito :)
      Turma da Mônica <3 adoro! Ainda tenho as minhas BD's todas. Devorava aquilo em menos de nada e ainda gosto de ler hoje em dia!
      Existem azares na vida... acho que ninguém pega num livro achando que não vai gostar mas há sempre um ou outro que lá nos deixam menos satisfeitas. Faz parte :)
      É melhor não me alongar muito em relação ao trabalho dos professores, senão ainda temos guerra (já trabalhei muito e agora estou novamente a trabalhar com manuais escolares, conheço a espécie demasiado bem e as honrosas excepções também, claro) lol mas vivemos num país em que fazer alguma coisa dá muito trabalho :)
      Ora aí está um livro do PNL que nunca li... Tanta Gente, Mariana. Mas com a tua recomendação, ainda sou menina para o ir ler :D

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    3. Atenção que esse é um livro que não li pela escola, mas por iniciativa própria, em 2015 :)

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    4. Mas podia muito bem ter sido e pode muito bem ser um livro recomendado por todos os professores :)

      Um beijinho ^^

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