Vamos Falar Sobre... | Os (Obscuros) Bastidores dos Livros

Fui incentivada a fazer este post mal se soube da existência do blog. Tenho hesitado um bocadinho em fazê-lo, por não saber exactamente qual seria o vosso interesse e feedback mas a minha experiência diz-me que vai ao encontro dos conteúdos mais vistos deste blog. Aqui, já sabem, procuram-se abordar, a par de temas light como novidades e opiniões sobre livros, temas um bocadinho mais controversos.

Falei-vos um pouco da minha experiência a trabalhar com livros mas existe muito mais a dizer. Não exactamente relacionado com a minha experiência, mas sim com aquilo que os compradores de livros desconhecem quando vão a uma livraria, supermercado ou a qualquer outra superfície comercial comprar os seus livros.

Os livros não são comprados às editoras pelas superfícies que os vendem. Existe uma espécie de empréstimo. Basicamente, os livros que são vendidos, são pagos; os que não são vendidos, são devolvidos à editora/distribuidora, que emite uma nota de crédito no valor correspondente.

Isto cria uma rotatividade de livros no mercado, permite saber que tipo de livros vendem e que livros não interessam aos leitores. Mas cria também problemas. 

Este sistema é muito bonito e muito benéfico para as superfícies que vendem livros. Mas é nefasto para as editoras: não vos passa pela cabeça a quantidade de livros devolvidos que chegam danificados, de volta às editoras. Alguns, obviamente, conseguem-se aproveitar para vender em feiras do livro, com descontos entre 50-70%, outros são lixo.

Quando trabalhei com devoluções, apanhei de tudo... livros sujos de comida ou café, livros pisados, livros com fezes de pássaro... Sim, leram bem. Livros que cheiram mal, livros rasgados, livros escritos...

Para quem vai comprar - especialmente nas grandes superfícies - é tudo muito bonito, especialmente se estão a usufruir de 10% de desconto. O que não sabem é o que se passa nos bastidores desta indústria. Especialmente em locais em que o grosso do negócio não são os livros e em que as pessoas que lá trabalham se estão a marimbar para 
livros, tratam estes objectos como se fossem um pedaço de lixo. E é esse lixo que mandam de volta para as editoras e que as editoras, consoante o contrato que tiverem com a dita superfície, têm que aceitar e creditar devidamente. E por muito que se tirem fotos ao estado em que chegam os livros e se enviem as fotografias para quem de direito... ninguém viu e ninguém quer saber e o processo volta a repetir-se.

Perdem-se livros.

Existem situações em que os livros cuja devolução é solicitada nem sequer chegam à editora. São enviados para a editora errada? São extraviados? São roubados? Ninguém sabe, ninguém quer saber.
Não estou aqui a dizer que as editoras são umas coitadinhas, umas vítimas deste sistema. Não. As editoras também têm que saber impor limites. Para mim, que estava a lidar directamente com este tipo de situações, não deveria haver qualquer tipo de desculpa. Livros em estados lastimáveis não deveriam ser aceites de volta. Ponto.

O que aqui interessa reter é que nem tudo são rosas no mundo dos livros e que, apesar daquilo que vemos ser muito bonito, o que está por trás pode ser muito feio. O livro é um objecto, certo... mas não temos que tratar os objectos como se fossem lixo. O que não serve ou não tem interesse para mim, pode ter para o próximo. E estamos a falar de um investimento. É um investimento com importância para aqueles que trabalham com o livro e que se importam com o livro e com o estado em que ele está e com o estado a que chega de volta ao sítio de onde saiu imaculado.
Infelizmente, a meu ver, são as grandes superfícies comerciais que vão monopolizar a venda de livros, mais cedo ou mais tarde. Os descontos são frequentes e são aquilo que mais atrai os consumidores mas a consciencialização é necessária e é preciso que as pessoas tenham noção dos problemas e prejuízo que este tipo de questões podem causar a quem investiu tudo para criar uma editora e nos proporcionar leituras decentes.



A vossa opinião é muito importante para o blog. Não só vos peço que partilhem nas vossas redes os temas que acham relevantes serem dados a conhecer a mais pessoas, como agradeço algumas sugestões que queiram deixar sobre temas que gostassem de ver abordados :)

Boas leituras!

Comentários

  1. Desconhecia essa realidade. Não sabia que os livros não eram mesmo comprados à editoras, nem tão pouco que eram devolvidos m mau estado. Estou chocada. Realmente, existem muitas coisas por detrás de uma indústria que nós, clientes, desconhecemos.
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

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    1. Existe aquela velha máxima que diz «quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro»... É um bocadinho por aí. Da minha experiência a trabalhar com livros e até a visitar alguns blogs sobre livros, percebi que as pessoas só têm noção da parte colorida da coisa mas é importante que se tenha noção de todo o conjunto de coisas, boas e más.
      Para mim que, quando trabalhei numa livraria, nunca devolvi livros em mau estado - muito embora não saiba o estado em que eles chegavam ao destino porque as transportadoras são um enorme problema - também foi um choque ver o estado em que os livros me chegavam. Para quem gosta de livros é impossível não ser um choque.

      Um beijinho :)

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  2. Mas tu só podes estar a gozar! Escrever em livros?! Não pode ser possivel... olha não fazia ideia e estou super chocada!


    Beijinhos,
    O meu reino da noite ~ facebook ~ bloglovin

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    1. Lol... Sim. Não sei como é a nova geração de pais no UK mas aqui em Portugal estão mais interessados em olhar para o telemóvel do que em educar as criancinhas a mexer com cuidado e a serem civilizadas :) Basicamente, o que lhes deve passar pela cabeça é que os livros estão ali para entreter as crianças enquanto os pais fazem a vida deles.

      Beijinhos :)

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  3. Eis algo que não sabia! Muito interessante!

    Beijinhos

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